sábado, 16 de abril de 2011

O sonho do amanhã: canoenses aprovam estratégia para os próximos dez anos ao fim do 1º Congresso da Cidade

Foto: Ireno Jardim

A pergunta que acompanhou cada um dos participantes do 1º Congresso da Cidade desde o seu lançamento, há exato um ano, encontrou não apenas uma, mas milhares de respostas no decorrer do evento que finalizou no final desta tarde. Como deve ser a Canoas do futuro? - a questão crucial do planejamento da cidade – agregou a multiplicidade de expectativas e sonhos em forma de estratégia. Foram meses de intensos debates e valorosas trocas; foram reuniões, encontros, plenárias e rodas de conversa que culminaram na realização deste 1º Congresso da Cidade, criado para unir sociedade civil e poder público na construção do futuro da chamada Cidade do Avião.

A tarde desta sexta-feira, último turno do Congresso, iniciou com os Grupos de Trabalho, responsáveis por condensar as iniciativas e ações por temática. O debate aconteceu em salas de aula do Unilasalle, local que sediou o evento. Delegados e coordenadores dos GT's revisaram a pré-estratégia e incluiram alterações ou aditivos. Em uma destas salas, o GT 7 - Mobilidade, Circulação e Trânsito, parte integrante do eixo + Integrada, fomentava o debate sobre questões primordiais para uma cidade como Canoas, cortada pela linha do trem e pela famosa BR-116. Coordenado pelo secretário de Transportes e Mobilidade, Luiz Carlos Bertotto, o grupo incluiu o estudo de viabilidade de uma linha hidroviária, pela Praia do Paquetá, e reforçou a inclusão da acessibilidade universal para pessoas com deficiência nos ônibus - demanda proposta por um dos participantes, Adair José Bamburg.

Colaborando com a tarefa de pensar o desenvolvimento e o futuro do município, os palestrantes da tarde levaram cases que se assemelham à história vivida por Canoas. O prefeito de Diadema, em São Paulo, Mário Reali, socializou a implantação do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, enquanto Marcellin D'Almeida, diretor da Renovação Urbana da Plaine Commune, apresentou o processo realizado na região periférica da França. Reali ressaltou o entusiasmo com que vê a iniciativa de Canoas, que, segundo ele, mescla planejamento e participação da sociedade. “Temos semelhanças em Diadema e Canoas, são cidades por onde passam muitos carros, muitas pessoas”, dividiu ele, que é arquiteto e urbanista de profissão. Para Mário Reali, planejamento é construir consensos, expressando os conflitos e pactuando como vai se dar o processo.

O caso da região de Diadema
Com 385 mil habitantes, Diadema fica na região metropolitana de São Paulo e, conforme Reali, enfrenta problemas de saneamento e mobilidade. A iniciativa da criação do Consórcio foi do então prefeito de Santo André, Celso Daniel, época em que os problemas das cidades do ABC paulista não se resolviam nas próprias cidades. “Tínhamos que recuperar o protagonismo para mudar e desenvolver a região, não poderíamos resolver no âmbito local”, contextualizou. O prefeito de Diadema ainda falou da criação do Fórum de Cidadania do ABC, da Câmara Regional do ABC, e do 1º Planejamento Regional Estratégico, solução que resultou em diversos acordos e ações. Entre eles, Reali destacou o Movimento de Alfabetização – MOVA, que passou os índices de analfabetismo de 14% para 5%, o programa Criança Prioridade 1, que envolve Conselhos Tutelares, além do Plano de Macrodrenagem e da expansão do Polo Petroquímico.

A experiência da França
Representando a organização Plaine Commune, que desenvolve projetos em áreas de grande concentração urbana na França, Marcellin D'Almeida iniciou sua fala apoiando a manifestação de democracia participativa que viu no 1º Congresso da Cidade. Posteriormente, fez a apresentação da história do Plaine Commune, iniciada em 1980, depois do abandono da zona industrial da região durante os anos 60 e 70. De acordo com D'Almeida, foi a vontade de três prefeitos que deu início ao movimento, através da criação de um sindicato intermunicipal chamado Plaine Renaissance, para fazer estudos urbanos e elaborar um projeto de desenvolvimento, mobilizando diferentes atores.

Marcellin também apontou os números da experiência do Plaine Commune. São 350 mil habitantes, 130 mil empregos, 25 mil desempregados, 138 mil moradias, sendo 6 mil moradias insalubres, e 12 mil pedidos de moradia social, em espera. Entre os principais obstáculos enfrentados no país da Europa, indicou o francês, estão o desemprego e as solicitações para as moradias sociais. Mantidas as diferenças sociais e culturais, são problemáticas também conhecidas no histórico do Brasil.

O sonho da Canoas do futuro
O prefeito Jairo Jorge, ao agradecer a todos os convidados que enriqueceram o debate com suas experiências vividas em diferentes lugares do mundo, pontuou que os problemas que afligem Canoas não são exclusivos daqui, transcendem as fronteiras. Para Jairo, o Congresso é um processo de resgate da história e das lembranças do município. “Falamos de sonho aqui, tomando nas mãos o nosso futuro”, colocou ele. O secretário de Relações Institucionais, Mário Cardoso, compartilhou a ideia de criação do 1º Congresso da Cidade, sustentado por dois elos: a participação efetiva da sociedade canoense e o debate com conteúdo, com profundidade.

As propostas levantadas durante todas as etapas do evento foram levadas à plenária e votadas, temática por temática. Por unanimidade, foi aprovada então a Estratégia da Cidade 2011 – 2021, com 43 iniciativas e 104 ações. Construídas coletivamente, por muitas mãos e mentes, o documento final desenha os próximos anos da cidade, com planos de crescimento no campo social, cultural e econômico. Foram mais de 600 delegados incidindo efetivamente no planejamento, representando os moradores de Canoas e fazendo o grande exercício de cidadania.

Ao final deste que foi o 1º Congresso da Cidade, Canoas escreve mais uma página da sua história e dá passos largos rumo ao seu próprio futuro. Simbolizando as sete décadas de vida, 70 crianças da rede municipal de ensino, somadas à menina Natália, que escreveu uma redação sobre o Congresso e representou mais um ano da cidade, totalizando os 71 anos de sua emancipação, fizeram a entrega dos certificados aos delegados. O momento, emocionante, teve seu ápice com a apresentação do grupo Tholl. A trupe circense de Pelotas encerrou o evento encantando os participantes com toda sua arte, coroando o fechamento desse importante marco para a cidade e brindando os novos tempos de Canoas.

Amanda Utzig Zulke